Monday, March 01, 2010

Roberto Schmitt-Prym - CENÁRIOS DA MEMÓRIA




ROBERTO SCHMITT-PRYM
Panambi, RS. - 1956.

PRINCIPAIS INDIVIDUAIS
Exposições em 2010
Aliança Francesa, Porto Alegre.
Centro Cultural Justiça Federal, Rio de Janeiro.
Exposições de 1990 a 2009
Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
Galeria UFSC, Florianópolis.
Fundacion Arte por Uruguay, Montevidéu, Uruguai.
Museu Leopoldo Gotuzzo, Pelotas.
Institut d'Estudis Ilerdencs, Lerida, Espanha.
Casa de Cultura Mario Quintana, Porto Alegre.
Museu da Gravura Cidade de Curitiba, Curitiba.
Palácio das Artes, Belo Horizonte.
Museu de Arte de Santa Maria, Santa Maria.
Museu de Arte Moderna, Rezende.
Museu de Arte Contemporânea, Obra em Evidência, Porto Alegre.
Casa de Cultura José Lins do Rego, João Pessoa.
Galeria Laura Alvim, Rio de Janeiro.
Galeria Yázigi, Porto Alegre.
Museu de Arte de Goiânia, Goiânia.
Museu de Arte de Santa Catarina, Florianópolis.
Museu de Arte de Anápolis, Anápolis.
Museu de Arte Assis Chateaubriand, Campina Grande.
Galeria Iberê Camargo, Porto Alegre.
Galeria Funarte, Rio de Janeiro.
Galeria Fotóptica, São Paulo.
4ª Semana da Fotografia, Curitiba.

EXPOSIÇÕES EM GRUPO
Porto de Elis, Porto Alegre; Espaço IAB, Porto Alegre; Galeria UFF, Niterói; Centro Cultural Cásper Libero, São Paulo; Paço municipal, São Bernardo do Campo; Universidade Nacional Autônoma do México, Cidade do México; Forum Borsen Galleri, Gotemburgo, Suécia; Museu de Arte Contemporânea, Campinas, Museu de Arte Contemporânea, Porto Alegre; FNAC, Viseu, Portugal.
PRINCIPAIS SALÕES E PRÊMIOS
VIII Salão da Câmara, Porto Alegre; Prêmio Copesul-MARGS 35 Anos, Porto Alegre; 11° Mini Print Internacional, Cadaques, Espanha; 1º Salão de Arte Semana de Santa Rosa, Santa Rosa, (Prêmio); XXVII Salão de Arte de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto, (Prêmio); 1st. Annual International Print Exhibition, EUA; 48° Salão Paranaense, Curitiba; VII Salão FASC, Aracaju; III Mostra Latino-Americana de Arte, Santa Maria; XVII Salão de Arte de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto.
PRINCIPAIS COLETIVAS
Museu de Arte Contemporânea de Campinas
"A Cidade e o Rio", Agência de Arte, Porto Alegre.
"Fotografia 150 Anos", BD Galeria, Porto Alegre.
"Bleu, Blanc, Rouge", Agência de Arte, Porto Alegre.
"Artistas Gaúchos-Produção Recente", MARGS, Porto Alegre.
"Arte Gaúcha Contemporânea", Galeria UFSC, Florianópolis e Galeria UGB, Salvador.
"Atitudes Contemporâneas", Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre.
"Catálogo Geral", MARGS – Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
"A superfície na Obra Gráfica do Rio Grande do Sul", Galeria Espaço Institucional, Porto Alegre.
"Panorama Arte Gaúcha Contemporânea", Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre.
"Shiga International Exchanges ", Katata e Hikone, Japão.
"Mostra Inaugural", Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.
"Mostra de Artistas Contemporâneos", Museu Leopoldo Gotuzzo, Pelotas.
"Arte Contemporânea - Acervo MAC", Edel Trade Center, Porto Alegre.
"Nova Atualidade", Museu de Arte Contemporânea, Porto Alegre.
"Produção Recente", Museu de Arte Contemporânea, Porto Alegre.
"Mostra Inaugural", Museu de Arte de Santa Maria, Santa Maria.
"Imagens da Arte Gaúcha", Museu de Artes Visuais Ruth Schneider, Passo Fundo.
"Obra Gráfica Internacional, Mostra de Gravuras", Itinerante por dez cidades do Japão.
"Graphic Aus Brasilien", Eichstatt, Alemanha.
"El Camí em Blanc i Negre", Sant Cugat del Vallès, Espanha.
“6th International Miniart Exchange”, Casa de Cultura Mário Quintana, Porto Alegre.

PRINCIPAIS COLEÇÕES
Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul, Porto Alegre; Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre; Museu de Arte de Goiânia, Goiânia; Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo, Pelotas; Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria; Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis; Museu de Arte de Santa Maria, Santa Maria; Fundacion Arte por Uruguay, Montevidéu; Club de Grabado, Montevidéu, Uruguai; Casa da Cultura, Ribeirão Preto; IPN, Universität Kiel, Alemanha.

O ELOGIO DA MEMÓRIA

Para ver os trabalhos de Roberto Schmitt-Prym, necessitamos mais do que o olhar: precisamos, antes de tudo, de silêncio, vagar e calma. Precisamos, depois, certo sentido de recolhimento. Não são para serem vistos com atenção dispersa. São obras exigentes. Precisamos, ainda, de uma entranhada consonância com o estado da arte de hoje. Precisamos nos reconhecer como integrantes de uma tradição. É muito? Não: basta que tenhamos a necessária inteligência para saber que o mundo não começa por nós: somos apenas um elo dessa cadeia que possui milênios e que começou pelas pinturas rupestres, que nos encantam por sua simplicidade e força.
Admiremos essas obras de arte que nos propõe o artista-fotógrafo: se somos viajados ou sumariamente informados dos prédios, monumentos e vias públicas que formam o cânone plástico e arquitetônico do Ocidente, podemos, premindo gentilmente os olhos, reconhecer a Notre-Dame de Paris, o Castel Sant´Angelo de Roma, o interior da Catedral de Brasília, uma avenida de Porto Alegre, alguns vitrais góticos da Europa Central. Com os olhos abertos, as pupilas dilatadas, essas imagens algo familiares desdobram-se em réplicas infinitas, instando-se uma tridimensionalidade tão fértil como são as histórias de cada um desses motivos retratados. Tudo isso é obtido com um sentido de alto refinamento existencial: o estranhamento decorrerá de nosso diálogo com a obra, que na verdade será um diálogo com o próprio artista; nós, com nossas incertezas, com nossa precariedade humana, mas também com nossa capacidade de encarar os desafios do novo; já o artista colaborará com sua capacidade de interpretar e transformar o mundo. Tratar-se-á de uma conversa pausada, na qual tentaremos atribuir sentido àquilo que visualmente nos atrai e inquieta. Tomemos como exemplo o impressionante estudo do Reichstadt de Berlim. A desconstrução da foto mediante a sucessão frenética de superposições faz com que o parlamento alemão adquira uma formidável gama de possibilidades interpretativas. Se conhecermos sua dramática história, entenderemos melhor o contraste existente entre a dissolução aleatória, a evocar momentos sombrios de história, e que faz contraste com o pavimento retilíneo, profundamente claro, contemporâneo e asséptico, a significar que a história é esse continuum permeado de alternâncias ideológicas e políticas, e que sempre haverá uma esperança para a Humanidade. A quem desconhece o que significa o Reichstadt, ficará uma duradoura sensação de harmonia entre as cores ocres atribuídas ao edifício com o céu de nuvens baixas e sujas, tudo isso fazendo luzir a parte inferior, realizada em grafismos quase abstratos.
Outra imagem de impacto é a pirâmide asteca com o topo expandido em várias pirâmides, e que ficam flutuando num espaço tempestuoso, trazendo-os a lembrança dos sacrifícios que ali se realizavam, e que até hoje não entendemos bem como aconteciam. No entanto, sua esmagadora presença perturba-nos. É sim a pirâmide asteca, mas é mais do que isso: é a representação cabal de um inquietante estágio civilizatório.
O título da exposição remete-nos à memória, o que abre um outro inesgotável leque hermenêutico. Sendo a memória, como diz Cícero, o tesouro e guardião de todas as coisas, aqui a memória cumpre esse papel. Sim, há tesouros, que não devem ser confundidos, é claro, com a riqueza material dos objetos captados da lente. São tesouros de significados. Uma igreja não o é, apenas. Uma igreja é a metafísica esculpida em pedra. Uma igreja simboliza uma cultura e uma história. Está repleta de significados, por vezes contraditórios. Quando nossa memória a evoca, ela se nos “aparecerá” na mente assim como Schmitt-Prym as apresenta: estilizada, múltipla, cambiante, duvidosa, imprecisa, estranha. E felizes somos nós, que há alguém de sensibilidade, um artista que, operando meios técnicos radicalmente contemporâneos, obtém o admirável efeito de provocar nossa memória, que se nos revela cheia de sensibilidade e conteúdo humano.
A arte de Roberto Schmitt-Prym é destinada tanto a apreciadores de sofisticado senso estético como a pessoas que ainda estão à procura de seu modus de enxergar a vida. Ambos experimentarão sensações poderosas: os primeiros, transitarão do prazer ao conhecimento e à reflexão; os segundos, experimentarão as sensações quase tangíveis de uma arte superior.
Sairemos transformados após a visão detalhada, e repetimos, calma e vagarosa, dessas obras que podemos incorporar ao que mais belo tem produzido o espírito dos homens e mulheres de nosso tempo.
E agora, silêncio. Deixemos que essas imagens falem à nossa alma, essa entidade tão curiosa e tão cheia de memórias.

Luiz Antonio de Assis Brasil, escritor


Talvez tudo o que eu tenha escrito seja ciúme do livro. Talvez o que Roberto Schmitt-Prym faça seja por ciúme da fotografia. São colagens que investigam a textura e o olhar, retrabalhando detalhes, impondo movimentos, incorporando digitais nas paisagens como se o dedo girasse com a imponência de uma íris. Igrejas, museus, prédios públicos, há uma interferência testemunhal, cromática, que torna a imagem uma aparição, um vulto fantasmagórico pedindo atenção.

“Cenários da memória” representa uma sismografia de nossas emoções. Captura a sequência de sonhos entre uma fotografia e outra. Ou o estado psicológico do observador. As cores azul e cinza indicam frieza, a vermelha e a amarela sinalizam quentura. A profundidade é de desenho, a velocidade é da sombra.

Schmitt-Prym tem inveja. Uma profana inveja que queima nossos cílios para enxergarmos sem defesa.

Fabrício Carpinejar, escritor



A ESTRANHA ARTE DE Schmitt-Prym

Para os formalistas russos, a arte de qualidade produz ostranenie, neologismo que, traduzido, pode significar estranhamento.
Diante da grande arte, não conseguimos manter a passividade. Algo, em nós, se movimenta. E em várias direções, como o obturador de Schmitt-Prym.
Os gregos preferiram chamar de epifania, derivado de epiphanós, local em que o sagrado se manifesta. O que vemos, não é real. Ou o real é infinitamente mais complexo do que o que vemos. Como as fotos de Schmitt-Prym.
Mais tarde, Longino chamou a este estranho efeito da grande arte de sublime. Talvez por que, mais que tudo, ela nos cause espanto. Impossível ver as fotos de Schmitt-Prym sem perplexidade.
Pois os três conceitos teóricos, estranhamento, epifania e sublime, foram os que me vieram à mente ao contemplar (olha o sagrado aí outra vez...) as fotos de Schmitt-Prym.
A grande arte fala sozinha, ela não precisa de comentaristas, críticos, avaliadores. Diante dela, basta dizer, como disse Buonarroti:
— Parla!
E ela fala, como as fotos do Schmitt-Prym.


Charles Kiefer, escritor

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