Sunday, May 04, 2008

Arte fotográfica ganha 'sabor' digital

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FOTOGRAFIA
Lucas Pretti

Quem gosta de fotografar com negativos encontrava na arte o melhor nicho para defender seu ponto de vista. A textura do filme, os contornos, a resolução. Mas até isso está mudando. Já há fotógrafos que encontraram o “sabor” da arte digital, técnicas que negativo nenhum consegue reproduzir.

O exemplo mais extremo e de vanguarda é a “sujeira” na imagem causada propositalmente em câmeras de baixa resolução, como as de celulares. O zoom é usado ao extremo com a finalidade de distorcer a foto e recriar a realidade. “Uso a qualidade reduzida a meu favor. Acabo conseguindo tons de cores só possíveis de se alcançar com pixels”, afirma o fotógrafo Klaus Mitteldorf, conhecido pelo trabalho com publicidade.

Mitteldorf destaca que a estética digital é uma reunião de estéticas, a possibilidade de misturas infinitas delas. “Posso desde escanear negativos e misturá-los às fotos digitais, dividir tudo em pedaços e criar as mais diferentes imagens”, afirma. Fora que as técnicas podem ser aplicadas em qualquer lugar, quase sem equipamento. As fotos de Mitteldorf são vistas em www.tinyurl.com/5gpbxn.

Além do celular, há uma técnica específica que tem norteado os trabalhos de fotógrafos no suporte digital, conhecida por white balance (balanço de branco). As câmeras digitais lêem a luz dos ambientes da forma que o fotógrafo quiser, como se vários filmes estivessem dentro delas. Ou como se os filmes pudessem ser misturados. O resultado é que o fundo branco de uma parede, por exemplo, pode ficar vermelho, roxo ou verde sem a interferência de um Photoshop da vida.

O fotógrafo Daniel Malva, de 31 anos, tem diversos trabalhos em que utiliza a técnica, inclusive contratado pela organização da São Paulo Fashion Week. Os ambientes ficam sombrios e com tons néon, ao mesmo tempo em que se vêem pontos com luz natural. Mesmo com a aplicação de filtros na lente seria impossível reproduzir o contraste com câmeras clássicas.

“Ficava incomodado vendo as pessoas usando câmeras digitais como se tivessem um filme dentro, que só aceita um tipo de luz”, afirma Malva. Para produzir as imagens, ele precisou estudar muito a relação com a luminosidade de cada tipo de filme ou película. Precisou conhecer o antigo para propor o novo. “Agora quero tirar o sensor ultravioleta, mas preciso de outra câmera” (veja fotos de Malva em www.tinyurl.com/6zu5g5).

O ambiente onírico é encontrado também em algumas fotos de Guilherme Maranhão. Um ensaio específico, o Pluracidades, também explora o digital para fundir as imagens e criar outro cenário no mesmo. Difícil compreender; mais fácil ver no site do projeto, em www.tinyurl.com/6sban2.

Outro lado
A descoberta do sabor digital não significa que o negativo perdeu a graça. É apenas mais uma forma de explorar as possibilidades de criação. A fotógrafa Célia Mello (//tinyurl.com/6zqh49), por exemplo, baseia toda a produção em técnicas possíveis apenas com filmes e usa a revelação no processo criativo.

“Eu sobreponho negativos e construo uma nova percepção sobre as fotos”, afirma. Entre os trabalhos há tanto seqüências de fotos, como a acima, quanto imagens sem correlação imediata que, unidas, criam uma terceira inédita.

Célia diz preferir o filme pela espécie de “alquimia” que o cerca. Mas também produz com câmeras digitais. “O que me fascina no analógico é a interferência do acaso, da surpresa, que pode trazer qualidade ao trabalho.” A conclusão dela é simples: fotógrafo precisa ter olho, independentemente da câmera.

É a mesmo opinião do professor do Senac-SP Fernando Fogliano. Para ele, o “sabor” digital é a desconstrução, a flexibilidade das imagens capturadas diretamente para um arquivo. “Os processos híbridos que se vêem hoje em dia são altamente positivos. Não se sabe direito as fronteiras entre fotografia, cinema, internet, eletrônica”, diz. A chance de “sujar” a foto com técnicas erradas aplicadas de propósito é outro fator importante para o pesquisador. “O realismo acabou.”

Isso significa duas coisas. A primeira é o fim das lendas e especulações. Sim, dois importantes fotógrafos do século 20, o francês Henri Cartier-Bresson (1908-2004) e o brasileiro Sebastião Salgado (em plena atividade), conseguiriam tirar as mesmas fotos se tivessem câmeras digitais. Lembrando que a discussão aqui é técnica e não de processo criativo.

E a segunda é que, a partir de agora, os dois mundos se fundiram para sempre. Bons fotógrafos digitais precisam conhecer o filme para calibrar o olhar e explorar possibilidades. Entusiastas dos filmes devem conhecer as técnicas eletrônicas para buscar o que de exclusivo há no negativo.

Isso até chegar outra tecnologia revolucionária. Fotografia coletiva? Realidade virtual? Cinema ao vivo? Preparem-se.

Veja o exemplo de três galerias diferentes

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