Luiz Pizarro - Morros Velados
Luiz Pizarro – Morros velados
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Abertura: 11 de novembro de 2009, de 19h às 22h
Visitação pública: 12 de novembro de 2009 a 03 de janeiro de 2010
Realização: MAM Rio
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro apresenta a exposição “Morros velados”, com 20 trabalhos inéditos de Luiz Pizarro, a partir de 11 de novembro, para convidados, e do dia seguinte para o público. Produzidos entre 2006 e 2009, os trabalhos retomam uma pesquisa desenvolvida pelo artista entre 1995 e 1998, em que faz impressões em parafina. Durante uma bolsa-residência em Paris, em 2006, Pizarro começou a trabalhar novamente com a parafina, explorando as paisagens a sua volta. Daí surgiram as primeiras obras, as gárgulas de Notre Dame, que ele associa às carrancas do Rio São Francisco. De volta ao Rio, permanece um ano, quando decide se mudar para São Paulo. “Mas minha referência é o Rio”, afirma.
A pesquisa com a paisagem parisiense migra para o relevo carioca. Pizarro se apropria de fotos de favelas do Rio, disponibilizadas na Internet e feitas por turistas em visita à cidade. Ele recria, em parafina, o relevo carioca, como os ícones Corcovado e Pão de Açúcar, e imprime nele as fotos. O resultado remete à paisagem da cidade, repleta de favelas. “São superposições, fragmentos, pequenas histórias”, explica. “A favela é uma metáfora do país”.
“Os estrangeiros vindos de países de primeiro mundo são atraídos por nossas favelas. O que eles buscam? Vêm atrás de uma visão de uma felicidade que não é fornecida pelo dinheiro”, diz. “De longe é lindo. Mas de perto, há todas as mazelas”. Ele faz uma observação: seu interesse é artístico, estético, e não pretende “fazer tratados socio-econômicos”. “Meu interesse é no ser humano. A arte serve para provocar a reflexão”. Luiz Pizarro observa que tanto as gárgulas como as favelas “são uma referência de beleza que atrai e repele”.
A obras são de pequenas dimensões, convidando a que o público as veja de perto. Ao se deter nos trabalhos, o espectador vai confrontar com o mundo externo ao museu, sua cidade. A própria concepção da montagem – em que os trabalhos estão dispostos não-linearmente sobre um painel azul-noturno, na parede ao fundo do foyer do MAM – lembram à construção desordenada das favelas.
Stéphane Rémy Malysse, professor da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da USP, escreveu a propósito da mostra “Morros Velados” que Luiz Pizarro “fabrica pequenas metonímias dos morros, que figuram tanto frios (montes enevoados) e quentes (a parafina derretida), densos (detalhes) e leves (como uma vela), frágeis (quebráveis) e fortes (pinturas armadas). Essas novas quimeras absorvem, na opacidade da parafina, outros olhares, imagens de Debret e do próprio artista sobre Notre Dame de Paris”.
Nascido no Rio em 1958, Luiz Pizarro foi revelado na mostra “Como vai você, Geração 80?”, realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, em 1984. Participou das edições de 1985 e 1991 da Bienal Internacional de São Paulo, e de várias exposições, no Brasil e na Alemanha, onde viveu de 1992 a 1998.
O artista tem o site www.luizpizarro.com.br
Serviço: Exposição “Luiz Pizarro – Morros velados”
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
Abertura: 11 de novembro de 2009, de 19h às 22h
Visitação pública: 12 de novembro de 2009 a 03 de janeiro de 2010
Realização: MAM Rio
De terça a sexta, das 12h às 18h Sábado, domingo e feriado, das 12h às 19h A bilheteria fecha 30 min antes do término do horário de visitação.
Ingresso: R$8,00
Estudantes maiores de 12 anos R$4,00
Maiores de 60 anos R$4,00
Amigos do MAM e crianças até 12 anos entrada gratuita
Domingos ingresso família, para até cinco pessoas: R$8,00
Endereço: Av. Infante Dom Henrique, 85
Parque do Flamengo – Rio de Janeiro – RJ 20021-140 Telefone: 21.2240.4944
www.mamrio.org.br
Mais informações: CW&A Comunicação
Claudia Noronha / Beatriz Caillaux / Marcos Noronha
21 2286.7926 ou 3285.8687
claudia@cwea.com.br / beatriz@cwea.com.br /
marcos@cwea.com.br
Morros velados
Stéphane Rémy Georges Malysse
A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes
da Favela sob o azul cabralino são fatos estéticos.
Oswald de Andrade, Manifesto pau-brasil, 1924.
As favelas, além de pertencerem ao patrimônio cultural e artístico do Rio de Janeiro, crescem de forma espontânea no inconsciente dos artistas, formando novas constelações no imaginário das Cidades. Ao mesmo tempo visíveis e invisíveis, mutantes e estáveis, as favelas são sonhadas antes de serem vistas, sentidas antes de serem visitadas. Ao condensar, como num sonho surrealista, as imagens de favelas publicadas pelos turistas ao voltarem do Rio de Janeiro, Luiz Pizarro reintegra essas imagens dispersas ao seu processo criativo. O que ia embora com os gringos é reaproveitado para constituir uma nova camada, velada essa, da arquitetônica imaginária desses não-lugares urbanísticos. A própria estética da favela é meticulosamente transformada em uma refavelização da tela. Esses espaços outros, habitados e planejados pelo outro, passam a ser invadidos também pelo artista-bricoleur que soube reaproveitar dos restos e pedaços de espaços e de visões alheias para realizar seus morros re-velados, parafinas de favelas ou paisagens sob a neblina.
Pelos gestos acumulativos e alusivos, que parecem parodiar, de certa forma, o próprio crescimento das favelas, o artista reconstrói o espaço através das suas pinturas-esculturas e recupera definitivamente as imagens fugitivas da sua cidade. A partir dos fragmentos impressos de favelas, Luiz Pizarro fabrica pequenas metonímias dos morros que figuram tanto frios (montes enevoados) e quentes (a parafina derretida), densos (detalhes) e leves (como uma vela), frágeis (quebráveis) e fortes (pinturas armadas). Essas novas quimeras absorvem, na opacidade da parafina, outros olhares, imagens de Debret e do próprio artista sobre Notre Dame de Paris. Como que congeladas, as telas parecem procurar o amarelo do sol por conta própria e afirmar a instabilidade da paisagem retratada.
Condensadas, integradas e logo dissolvidas na parafina, essas carrancas gigantes são fatos políticos transmutados em objetos simbólicos e poéticos: são fatos estéticos, como dizia Oswald de Andrade. No azul escuro da noite, a favela deixa de ser antiestética para virar um quadro luminoso que atrai e afasta feito uma gárgula. Ao deixar derreter a própria imaginação, Luiz Pizarro apresenta a sua arqueologia e revela sua visão íntima do espaço familiar. Para reativar a poesia da geografia carioca, revelada por Hélio Oiticica, o artista cria armadilhas conceituais capazes de cegar o espectador. De olhos velados, ele é convidado a mudar sua visão do lugar...
Stéphane Rémy Georges Malysse é professor e doutor em Arte e Antropologia Aplicada (EHESS), na Escola de Artes, Ciências e Humanidades / USP
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