LAURA Erber - O Funâmbulo e o Escafandrista
Laura Erber – O funâmbulo e o escafandrista
Novembro Arte Contemporânea, Rio
Abertura: 06 de novembro de 2008, 19h
Visitação: 07 de novembro a 10 de janeiro de 2009
Apoio: Prefeitura de Paris
Galeria Novembro Arte Contemporânea
Le Recollets
Consulado Francês do Rio de Janeiro
Hy Brazil produções
NOUS Multimedia
ALICE FILMES
Eu te convido, eu te convoco, eu te dou um nome,
não importa qual; brumas, pernas,
lobo de mercúrio sobre um rosto,
vegetação que cresce sobre certos gestos,
tigre adormecido atrás da palavra.
Ghérasim Luca
Todos os anos, o rio Sena recebe cerca de 180 corpos na região parisiense. Muitos deles retornam à superfície, alguns com vida, outros não. E os que não retornam se mesclam aos objetos que são ali despejados todos os dias, apodrecem juntos, conforme o ritmo de cada matéria. De geladeiras a estatuetas voodoo, o rio acolhe o que foi preterido. Corpos sem nome, objetos sem dono, dejetos, rebotalhos.
Em sua segunda individual na Novembro Arte Contemporânea, a artista Laura Erber apresenta uma instalação multimídia e um conjunto de objetos que interrogam o impulso para a morte em suas manifestações ambivalentes e oblíquas. Pode ser um homem que espera nas margens, uma menina que pesca cabeleiras no rio ou uma mulher que se deita entre os peixes. As imagens foram filmadas em Paris, em 2007, durante um período de residência da artista com uma bolsa da Prefeitura de Paris no Le Recollets.
A vídeo-instalação que funciona como eixo do trabalho é um tríptico, com três projeções sobre parede, com 21 minutos de duração, em loop, com som. A outra instalação é composta por seis televisões, casa uma contendo um vídeo diferente, com durações variadas, com fones de ouvido. Haverá ainda dois objetos – animais transformados e taxidermizados – e uma colagem/desenho feita com dentes de coelho.
Os trabalhos têm como ponto de partida dois suicídios do século XX, um do início e outro do fim século. Em 1901, chegou ao Instituto Médico Legal de Paris o corpo da jovem a quem os franceses se referem como a “Desconhecida do Sena”, espécie de mito criado em torno da morte de uma garota com uma inquietante expressão de gozo no rosto. O seu estranho sorriso teria impressionado o médico legista a ponto de ele encomendar um molde em gesso do seu rosto. Réplicas da máscara da “Desconhecida” marcaram presença nos domicílios franceses até os anos 1950-60, intrigando muitos escritores e artistas. Maurice Blanchot, que possuía uma réplica da máscara diante da mesa de trabalho, contava que Giacometti vivia à procura de uma jovem capaz da mesma coragem, da mesma busca de gozo no encontro com a morte.
O suicídio cria uma intimidade profanadora com a morte, intimidade contagiante que pode, em algumas circunstâncias, converter-se em epidemia coletiva. Intimidade que é também abolição do limite que mantém vida e morte afastadas, e que assim produz novos gestos, uma outra relação com os objetos e com os limites do corpo. O cineasta Stan Brakhage gostava de lembrar que as pinturas descobertas nas cavernas mostram que o homem primitivo compreendia melhor o fato de que o objeto do medo deveria ser materializado. Toda a história da magia erótica pode ser lida como história da possessão do temor através da sua apreensão. Nos livros de Ghérasim Luca, L’inventeur de l’amour e La mort morte, ambos de 1945, o suicídio aniquila o temor à morte por meio de sua possessão erótica. No dia 3 de março de 1994, o corpo de Luca chega ao Instituto Médico Legal após ter sido retirado do Sena pela Brigada Fluvial.
Laura Erber cria uma abertura paródica por meio de imagens cúmplices da intimidade com a morte. Intimidade que se manifesta nos objetos que o rio devolve, no trabalho cotidiano dos escafandristas, nas fantasias de uma possível Lady Lazarus que reencena a própria morte como costumam fazer as crianças em certos jogos. Nestes vídeos, o rio Sena é encarado como uma espessura ao mesmo tempo cênica, plástica e simbólica. O olhar ora recua, ora se deixa capturar pelos encantos, pela potência criativa do horror.
A Bela Diacronia 1 e 2, os objetos que vêm se juntar aos vídeos – um rabo de peixe que termina numa cabeça de coelho, um peixe travestido em pássaro testando suas asas –, reafirmam a idéia de que o encontro com a morte não deve ser entendido aqui como fechamento simbólico, mas como um índice de mutação, um princípio dinâmico que convida a outro consumo dos signos que a morte libera. É essa a idéia que atravessa toda a exposição como um tremor que perturba e altera as formas de vida, fazendo surgir corpos que já não cabem dentro de seus limites físicos e que por isso se desfazem, inventam para si uma saída, uma outra plasticidade. As múltiplas projeções simultâneas enfatizam o acaso e sua capacidade de criar combinações inusitadas nas quais a construção de sentido já não se dá do mesmo modo que na montagem clássica. Em diferentes camadas visuais, diferentes texturas e materialidades, surgem também outros pactos entre o ficcional, o documental e o performático.
WEBSITE do projeto “O funâmbulo e o escafandrista”
A Novembro Arte Contemporânea produziu um site que oferecerá ao espectador uma outra experiência da descoberta das imagens que compõem a exposição. O site, feito pelo designer Marcos Wagner, foi pensando como um catálogo que, ao deixar a folha impressa para explorar a elasticidade do espaço virtual, intensifica a possibilidade de combinação entre imagens – agora pelas mãos do espectador – evidenciando o caráter fragmentário das sequências de imagens e do sentido inacabado que mobilizam.
Laura Erber – Pequena biografia
Laura Erber nasceu em 1979 no Rio de Janeiro. Sua prática artística vem se caracterizando pelo constante trânsito entre linguagens (filme, vídeo, escrita, desenho, fotografia) e pelo modo singular como a artista reconfigura as relações entre palavra, imagem e corpo. Suas obras foram exibidas em diversos festivais internacionais de cinema e vídeo, além de centros de arte no Brasil e na Europa (Le Plateau, Jeu de Paume, Casa Européia da Fotografia, Museu de Arte Contemporânea de Moscou, Museu de Arte Moderna de Paris, IASPIS em Estocolmo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Oi Futuro, Centro Cultural Banco do Brasil). Foi artista residente no Centro de Arte Conteporânea Le Fresnoy (França), Akademie Schloss Solitude (Alemanha). Realizou exposições individuais na Fundação Miró (Barcelona) e no Centro Internacional de Arte da Ilha de Vassivière (França). Em 2007, com a peformer Marcela Levi, recebeu a bolsa Batiscafo/Triangle Arts (Cuba). Foi escritora em residência no Pen Center de Antuérpia e publicou os livros Insones (7Letras, 2002), Os corpos e os dias/Bodies and days (Editora de Cultura, 2008) e Vazados & Molambos (Editora da Casa, 2008). Colaborou com o escritor italiano Federico Nicolao no livro Celia Misteriosa (Illusion d’optique & Villa Medici, 2007) e com o artista Laercio Redondo no projeto Casa de Vidro (1999-2008).
Mais informações: http://lauraerber.googlepages.com/
Serviço: Laura Erber – O funâmbulo e o escafandrista
Novembro Arte Contemporânea
Rua Siqueira Campos 143, slj 118
Copacabana, Rio de Janeiro
Tel: 21.2235.8347
Horário: 12h às 19h
Sábados de 11h às 15h – Fechada aos domingos e segundas
Entrada franca
novembroarte@gmail.com
Mais informações: CW&A Comunicação
Claudia Noronha / Beatriz Caillaux
21 2286.7926 / 3285.8687
claudia@cwea.com.br / beatriz@cwea.com.br
Novembro Arte Contemporânea, Rio
Abertura: 06 de novembro de 2008, 19h
Visitação: 07 de novembro a 10 de janeiro de 2009
Apoio: Prefeitura de Paris
Galeria Novembro Arte Contemporânea
Le Recollets
Consulado Francês do Rio de Janeiro
Hy Brazil produções
NOUS Multimedia
ALICE FILMES
Eu te convido, eu te convoco, eu te dou um nome,
não importa qual; brumas, pernas,
lobo de mercúrio sobre um rosto,
vegetação que cresce sobre certos gestos,
tigre adormecido atrás da palavra.
Ghérasim Luca
Todos os anos, o rio Sena recebe cerca de 180 corpos na região parisiense. Muitos deles retornam à superfície, alguns com vida, outros não. E os que não retornam se mesclam aos objetos que são ali despejados todos os dias, apodrecem juntos, conforme o ritmo de cada matéria. De geladeiras a estatuetas voodoo, o rio acolhe o que foi preterido. Corpos sem nome, objetos sem dono, dejetos, rebotalhos.
Em sua segunda individual na Novembro Arte Contemporânea, a artista Laura Erber apresenta uma instalação multimídia e um conjunto de objetos que interrogam o impulso para a morte em suas manifestações ambivalentes e oblíquas. Pode ser um homem que espera nas margens, uma menina que pesca cabeleiras no rio ou uma mulher que se deita entre os peixes. As imagens foram filmadas em Paris, em 2007, durante um período de residência da artista com uma bolsa da Prefeitura de Paris no Le Recollets.
A vídeo-instalação que funciona como eixo do trabalho é um tríptico, com três projeções sobre parede, com 21 minutos de duração, em loop, com som. A outra instalação é composta por seis televisões, casa uma contendo um vídeo diferente, com durações variadas, com fones de ouvido. Haverá ainda dois objetos – animais transformados e taxidermizados – e uma colagem/desenho feita com dentes de coelho.
Os trabalhos têm como ponto de partida dois suicídios do século XX, um do início e outro do fim século. Em 1901, chegou ao Instituto Médico Legal de Paris o corpo da jovem a quem os franceses se referem como a “Desconhecida do Sena”, espécie de mito criado em torno da morte de uma garota com uma inquietante expressão de gozo no rosto. O seu estranho sorriso teria impressionado o médico legista a ponto de ele encomendar um molde em gesso do seu rosto. Réplicas da máscara da “Desconhecida” marcaram presença nos domicílios franceses até os anos 1950-60, intrigando muitos escritores e artistas. Maurice Blanchot, que possuía uma réplica da máscara diante da mesa de trabalho, contava que Giacometti vivia à procura de uma jovem capaz da mesma coragem, da mesma busca de gozo no encontro com a morte.
O suicídio cria uma intimidade profanadora com a morte, intimidade contagiante que pode, em algumas circunstâncias, converter-se em epidemia coletiva. Intimidade que é também abolição do limite que mantém vida e morte afastadas, e que assim produz novos gestos, uma outra relação com os objetos e com os limites do corpo. O cineasta Stan Brakhage gostava de lembrar que as pinturas descobertas nas cavernas mostram que o homem primitivo compreendia melhor o fato de que o objeto do medo deveria ser materializado. Toda a história da magia erótica pode ser lida como história da possessão do temor através da sua apreensão. Nos livros de Ghérasim Luca, L’inventeur de l’amour e La mort morte, ambos de 1945, o suicídio aniquila o temor à morte por meio de sua possessão erótica. No dia 3 de março de 1994, o corpo de Luca chega ao Instituto Médico Legal após ter sido retirado do Sena pela Brigada Fluvial.
Laura Erber cria uma abertura paródica por meio de imagens cúmplices da intimidade com a morte. Intimidade que se manifesta nos objetos que o rio devolve, no trabalho cotidiano dos escafandristas, nas fantasias de uma possível Lady Lazarus que reencena a própria morte como costumam fazer as crianças em certos jogos. Nestes vídeos, o rio Sena é encarado como uma espessura ao mesmo tempo cênica, plástica e simbólica. O olhar ora recua, ora se deixa capturar pelos encantos, pela potência criativa do horror.
A Bela Diacronia 1 e 2, os objetos que vêm se juntar aos vídeos – um rabo de peixe que termina numa cabeça de coelho, um peixe travestido em pássaro testando suas asas –, reafirmam a idéia de que o encontro com a morte não deve ser entendido aqui como fechamento simbólico, mas como um índice de mutação, um princípio dinâmico que convida a outro consumo dos signos que a morte libera. É essa a idéia que atravessa toda a exposição como um tremor que perturba e altera as formas de vida, fazendo surgir corpos que já não cabem dentro de seus limites físicos e que por isso se desfazem, inventam para si uma saída, uma outra plasticidade. As múltiplas projeções simultâneas enfatizam o acaso e sua capacidade de criar combinações inusitadas nas quais a construção de sentido já não se dá do mesmo modo que na montagem clássica. Em diferentes camadas visuais, diferentes texturas e materialidades, surgem também outros pactos entre o ficcional, o documental e o performático.
WEBSITE do projeto “O funâmbulo e o escafandrista”
A Novembro Arte Contemporânea produziu um site que oferecerá ao espectador uma outra experiência da descoberta das imagens que compõem a exposição. O site, feito pelo designer Marcos Wagner, foi pensando como um catálogo que, ao deixar a folha impressa para explorar a elasticidade do espaço virtual, intensifica a possibilidade de combinação entre imagens – agora pelas mãos do espectador – evidenciando o caráter fragmentário das sequências de imagens e do sentido inacabado que mobilizam.
Laura Erber – Pequena biografia
Laura Erber nasceu em 1979 no Rio de Janeiro. Sua prática artística vem se caracterizando pelo constante trânsito entre linguagens (filme, vídeo, escrita, desenho, fotografia) e pelo modo singular como a artista reconfigura as relações entre palavra, imagem e corpo. Suas obras foram exibidas em diversos festivais internacionais de cinema e vídeo, além de centros de arte no Brasil e na Europa (Le Plateau, Jeu de Paume, Casa Européia da Fotografia, Museu de Arte Contemporânea de Moscou, Museu de Arte Moderna de Paris, IASPIS em Estocolmo, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Oi Futuro, Centro Cultural Banco do Brasil). Foi artista residente no Centro de Arte Conteporânea Le Fresnoy (França), Akademie Schloss Solitude (Alemanha). Realizou exposições individuais na Fundação Miró (Barcelona) e no Centro Internacional de Arte da Ilha de Vassivière (França). Em 2007, com a peformer Marcela Levi, recebeu a bolsa Batiscafo/Triangle Arts (Cuba). Foi escritora em residência no Pen Center de Antuérpia e publicou os livros Insones (7Letras, 2002), Os corpos e os dias/Bodies and days (Editora de Cultura, 2008) e Vazados & Molambos (Editora da Casa, 2008). Colaborou com o escritor italiano Federico Nicolao no livro Celia Misteriosa (Illusion d’optique & Villa Medici, 2007) e com o artista Laercio Redondo no projeto Casa de Vidro (1999-2008).
Mais informações: http://lauraerber.googlepages.com/
Serviço: Laura Erber – O funâmbulo e o escafandrista
Novembro Arte Contemporânea
Rua Siqueira Campos 143, slj 118
Copacabana, Rio de Janeiro
Tel: 21.2235.8347
Horário: 12h às 19h
Sábados de 11h às 15h – Fechada aos domingos e segundas
Entrada franca
novembroarte@gmail.com
Mais informações: CW&A Comunicação
Claudia Noronha / Beatriz Caillaux
21 2286.7926 / 3285.8687
claudia@cwea.com.br / beatriz@cwea.com.br
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